Se você fizesse um processo seletivo para ingressar em um empresa, mas não fosse aprovado, o que você preferiria ouvir?
Frase 1: Você é brilhante, mas não vai ser contratado por mim.
Frase 2: Você não vai ser contratado por mim, mas é brilhante.
Você precisa escolher uma opção e não me venha dizer que tanto faz ou que, na verdade, o que você queria mesmo é ser contratado. Leia de novo as frases e escolha, por favor.
Se você é um bom profissional, tem autoconhecimento e é bem resolvido, certamente, você escolheu a frase 2.
Se você é um bom profissional, mas é um pouco inseguro (ou mesmo anda com a autoestima um pouco afetada ou simplesmente prefere ser reconhecido antes de ser rejeitado), você pode ter escolhido a frase 1.
Acertei? Pode responder só mentalmente, isso não é um formulário de pesquisa!
Como eu posso saber disso? Talvez você esteja se perguntando e eu explico: sintaticamente, o “mas” é uma conjunção adversativa – eu sei que essa informação não muda muito a sua vida, mas você precisa saber, também, que por meio de sua posição na frase é possível detectar a intenção do discurso (que você pode substituir aqui por “copy” ou qualquer outro texto usado no Marketing Digital; ou seja: pense “discurso” no modo mais abrangente possível).
A seleção e a disposição das palavras podem revelar as intenções dos falantes e produzir sentidos diferentes. A argumentação está, também, presente na língua.
Saber disso vai fazer alguma diferença na sua vida?
Vai. Por quê?
Porque se você sabe, por exemplo, que o “mas” sempre irá introduzir o argumento mais forte, você notará que a frase 2 ressalta/reconhece uma qualidade sua (“ser brilhante”) e que a frase 1 foca no fato de você não ter conseguido a vaga – isso, aliás, é uma técnica de feedback muito usada em departamentos de RH: o reconhecimento antes da crítica.
Quando eu falo “Eu acordei cedo, mas não fiz todas as tarefas do dia”, o foco está no insucesso. Ao dizer “Não fiz toda as tarefas do dia, mas acordei cedo”, a atenção se volta para o esforço feito. Na primeira opção, valorizo o fracasso; na segunda, valorizo o fato de ter acordado cedo.
Isso porque o “mas” atua como um operador que contrapõe o argumento inicial orientando para uma conclusão contrária.
Não preciso dizer que você deve aplicar isso quando estiver escrevendo as suas copys, não é mesmo?
Conhecer esses mecanismos da língua ajuda a interpretar melhor um texto (e não se prenda aqui à mensagem escrita, isto é, vale para textos orais também). Se você melhorar a capacidade de interpretação, melhorará, por extensão, sua escrita e sua comunicação como um todo.
“A rosa é bonita, mas tem espinhos” ou “A rosa tem espinhos, mas é bonita”? Nesse caso, a ordem dos fatores altera o produto. Como você usa os operadores argumentativos não é apenas uma questão de gramática, é, também, a forma que você vê o mundo.
Em cada palavra, muitas luzes brilham.